quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

CHAMADO MISSIONÁRIO


Fragilidade humana e proclamação

Marcos 3.13-19 relata a escolha dos doze de forma singela, mas profundamente significativa. Dentre o grupo de discípulos, Jesus escolhe doze para constituir apóstolos, o que nos mostra que mesmo havendo um chamado geral para todo cristão existe também um chamado específico para alguns. Todos são chamados ao testemunho da fé, ao exercício de algum ministério, à evangelização dos perdidos e à edificação da igreja, mas nem todos são chamados ao pastorado, a ministérios pioneiros de plantio de igrejas, nem todos são direcionados a cruzarem mares, embrenhar florestas ou desafiar desertos.  Existem chamados e direcionamentos específicos.

Somos chamados segundo a vontade de Deus
Os doze não se voluntariaram nem foram democraticamente nomeados pelos demais. Foram chamados ao apostolado “os que ele mesmo quis” e o resultado foi surpreendente, pois o que vemos não é a lista dos doze melhores homens da terra.
Dos Seus doze, quis Jesus que onze fossem da menosprezada Galiléia, zona norte de Israel, terra dos pequenos vilarejos, de economia doméstica, região de gente simples, pescadores, muitos iletrados, de onde se dizia não surgir profeta e não se esperava qualquer coisa boa de lá (Jo 1.52; 7.52). O único da prestigiada Judéia, da badalada zona sul, era Judas, cujo sobrenome “Iscariotes” significa “homem de Keriote”, uma pequena cidade ao sul de Hebrom.
A opção pelos galileus evidencia que o chamado não se baseia na sabedoria humana, na influência política nem no sobrenome da família. Não raramente Deus nos surpreende ao escolher as coisas loucas e fracas do mundo, humildes, desprezadas e as que não são, evitando assim a glória humana, mostrando que somos nada mais que vasos de barro conduzindo um tesouro, pessoas marcadas por fragilidades e por isso alvejadas pelo poder que se aperfeiçoa na fraqueza (1 Co 1.26-29; 2 Co 4.7; 12.9). O chamado é baseado unicamente na vontade de Deus. Jesus quis chamar gente simples e por isso o campo missionário está repleto daqueles que não são.
Ao contrário do que muitos pensam, o campo missionário está cheio de gente frágil, alguns de mentes complexas, outros simplistas, uns pessimistas, outros ingênuos, não poucos emocionalmente vulneráveis, outros com imaturidade espiritual, muitos de difícil relacionamento, outros sensíveis demais, vários de liderança fraca, outros centralizadores, todos herdeiros da queda, que impõe em nosso DNA o pecado que tenazmente nos assedia. Esses somos nós, missionários e pastores, no campo e no púlpito.

Somos chamados à Proclamação
Mas diferente dos mestres da época, Jesus é um mestre em movimento, e por isso Ele chama seus discípulos “para estarem com ele e para os enviar a pregar”. Não os chama para se aperfeiçoarem na reclusão de um mosteiro, mas sim para serem transformados enquanto vão de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, lançando a semente. Se nosso primeiro chamado é para estar com Cristo, nosso segundo e simultâneo chamado é para estar com o perdido e apresentar-lhe as boas novas.
Enquanto igreja, somos os únicos incumbidos e autorizados a evangelizar. Nem tudo que é eclesiástico é missão e nem tudo que é missão é evangelização. Na missão há espaço legítimo e necessário para diferentes ações, mas nenhuma substitui a proclamação do evangelho. Existem diferentes formas de minimizar o sofrimento e resgatar a dignidade humana, mas nenhuma tem o poder de transformar o homem como o evangelho. Esse é o nosso chamado à espiritualidade e à proclamação. Sem espiritualidade, a proclamação é hipócrita. Sem proclamação, a espiritualidade é deficiente.
Se o primeiro grande desafio no campo missionário é amadurecer espiritualmente, o segundo maior desafio é sermos efetivos na proclamação. Frente às demandas que são sempre maiores do que nós, frente às carências sociais que gritam a nossa volta e exigem uma resposta, frente às necessidades e expectativas de uma sociedade carente, é sempre possível e mais fácil nos dedicarmos excessivamente a legítimas causas humanitárias e minimamente à evangelização. É também mais confortável, pois as primeiras fazem do missionário um benfeitor, enquanto a segunda muitas vezes lhe torna persona non grata.

Frente às ideologias de uma sociedade que se diz pós-cristã e suas ressalvas à fé, é sempre necessário gastar tempo e energia em busca por espaço. O risco é se dedicar excessivamente à aceitação social e minimamente à proclamação. A ação humanitária é legítima e necessária, a aceitação social é necessária e imperativa. O desafio é conciliar tudo isso à efetiva pregação do evangelho, pois fomos chamados para proclamar e a fé vem pelo ouvir.

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